O Impossível - CRÍTICA
Quando fiquei sabendo da produção de “O Impossível”, pensei o que talentos como os de Naomi Watts e Ewan McGregor faziam num filme de tsunami. Alguns meses depois e tivemos não um filme de tsunami, mas sim “o” filme de tsunami. A obra do diretor espanhol Juan Antonio Bayona retrata com fidelidade a grande tragédia ocorrida no sudeste asiático quando um tsunami devastou a área deixando para trás cerca de 226 mil pessoas mortas.
Esse é considerado o maior desastre natural do nosso tempo. Uma família vai passar as férias de natal num exótico país asiático, e quando chegam ao maravilhoso resort onde estão hospedados descobrem que houve um problema que os tirou do quarto posicionado num local alto, para serem recompensados por outro com vista de frente para o mar. Qual mortal rejeitaria a troca? Nesse início temos um vislumbre da interação na família: o pai é um workaholic que não consegue se desligar dos aparelhos eletrônicos (além de ter relocado toda a família para o Japão, onde residem), e a mãe abriu mão do grande sonho de se tornar médica para cuidar dos filhos.
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NOTA: 85
Obviamente “O Impossível” me surpreendeu. O roteiro de Sergio G. Sánchez para um filme-catástrofe é mais sofisticado do que esperamos, e foca no drama pessoal dos personagens ao invés de somente nos desafios que os heróis precisarão enfrentar. Na verdade, “O Impossível” foca mais nas consequências do ato, do que no ato em si, e esse é um sinal de certa maturidade da obra. A dupla Sánchez e Bayona haviam criado anteriormente o satisfatório terror espanhol “O Orfanato”, que ganhou o aval quando recebeu o selo Guillermo Del Toro (o produtor do filme) de qualidade. “O Orfanato” é igualmente um terror diferenciado, e embora a dupla apresente momentos de tensão gélida, eles sabem que essa é só a cereja no bolo e que nada funcionaria casa não fôssemos emergidos instantaneamente na história através de bons personagens identificáveis, e no caso de “O Orfanato”, um clima e tom eficientes. Tudo isso serve para “O Impossível” também, onde o carisma e determinação (além da bagagem) de bons atores são a propulsão para que nos identifiquemos na hora com a situação.
Bayona cria cenas tensas de um realismo inacreditável, a cena da primeira visão e contato com as águas furiosas é uma imagem que assusta, quando vemos sua força demolindo as paredes do resort e passando por cima delas. As cenas físicas mais difíceis são todas protagonizadas pela talentosa Naomi Watts e pela grande surpresa do filme, o menino Tom Holland, que interpreta o filho mais velho Lucas (todos os meninos possuem nomes bíblicos). Os dois ficaram submersos dentro de um grande tanque filmando por semanas as cenas em que eram arrastados pelas águas em meio a destroços. O resultado se vê nas telas com cenas impressionantes de um realismo espantoso. A verdadeira protagonista aqui é Naomi Watts, que aparece na maior parte do filme lutando pela vida e pela vida de seu filho. A bela inglesa de 44 anos, só recebeu uma indicação ao Oscar em sua carreira, mas agora após a indicação no Globo de Ouro por seu forte e honesto desempenho, quem sabe a talentosa atriz não seja lembrada por uma segunda vez pelos votantes da Academia.
A maior conquista de “O Impossível”, porém, foi conseguir contar essa história. Um filme extremamente difícil, tanto no quesito técnico quanto no narrativo, onde poderia se tornar facilmente repetitivo e cansativo. Os envolvidos podem se considerar bem sucedidos, já que essa é uma história forte, envolvente e que precisava ser contada. Mesmo dentro da sala de cinema, já sentado, pensava como transformar esses eventos catastróficos num filme de duas horas, quando muito já foi mostrado e dito. O que acontece aqui é a fantástica e única experiência do cinema, onde somos jogados dentro dos eventos, e seguimos com os personagens por sua jornada. Dito isso, “O Impossível” não é uma obra excepcional e possui seus defeitos, embora poucos. Algumas cenas incomodam um pouco, como o fato de todos ao redor pareceram querer servir e ajudar somente os protagonistas.
Tá certo que essa é a história deles, mas quando uma pick-up passa apenas com a personagem deNaomi Watts sendo levada ao hospital quando claramente outros precisam de cuidados pela estrada, isso se torna um fato incômodo. Ou quando todos ao redor, na mesma situação favorecem os turistas brancos ingleses (que na história original são mexicanos), a cena do celular emprestado é ridícula de tão piegas, e até Ewan McGregor se sente incomodado claramente com ela. São pequenos detalhes que não desmerecem tudo o que foi criado e atingido com “O Impossível”, que abre e fecha com um close up no grande vilão, o mar.