Planeta dos Macacos: A Origem recria com originalidade toda uma mitologia e consegue surpreender com um enredo sóbrio e eficaz.
Após um experimento fracassado liderado pelo cientista Will Rodman (James Franco), apenas uma das cobaias da pesquisa sobrevive. Temendo pelo futuro do recém-nascido símio, Will resolve levá-lo para sua casa e acaba criando o animal a quem dá o nome de César (Andy Serkis). Graças a uma poderosa droga que se instalou no DNA do primata – ALZ112, uma possível cura para o Alzheimer – César acaba desenvolvendo uma inteligência superior e demonstrando capacidades cognitivas impressionantes. Tudo muda quando o animal se envolve num acidente e é levado para longe do seu criador.
NOTA: 80
Planetas dos Macacos: A Origem - TRAILER
Tendo consciência desses aspectos, os escritores colocam, acertadamente, César como o grande protagonista da narrativa deixando para James Franco e os outros atores uma posição coadjuvante. Apesar da decisão arriscada, as cenas em que presenciamos apenas César e seus companheiros símios são as melhores da película. O poder dos detalhes que surgem em momentos como aquele no qual César tem o primeiro contato com o ambiente plástico do centro de controle de animais é eficiente ao contrapor o selvagem e o artificial. O mesmo pode ser dito dos dias que se passam no cárcere liderado por Dodge Landon, interpretado por Tom Felton, que aqui foge da covardia de Draco Malfoy para compor um personagem sem qualquer escrúpulo. Sofremos junto com César e seus companheiros e, numa sacada brilhante do roteiro, presenciamos uma cena em que o símio descobre que outro também possui conhecimento da linguagem de sinais. Entrar na mente dos dois e perceber o quanto eles são capazes de entender sua situação, equiparando os sentimentos dos animais aos dos humanos – fato normalmente esquecido pela sociedade – é tocante.
Os efeitos visuais que recriam boa parte dos símios são outro atributo em Planeta dos Macacos: A Origem que merece aplausos. Se duvidamos, às vezes, da verossimilhança de criaturas como César, isso ocorre devido suas expressões quase humanas, e não por falhas no uso do CG. A textura dos animais se aproxima bastante da realidade, passando a impressão que eles poderiam ser tocados sem que questionássemos sua existência. Basta observar os detalhes que a equipe de efeitos confere a outro animal, Koba, um símio que passou a vida toda como cobaia em experimentos e apresenta feridas profundas, para atestar o esmero na composição da história e personalidade particular dos primatas. E mesmo as expressões a que me referi são um mérito da técnica de captura de movimentos que permite ao ator, Andy Serkis, utilizar toda sua experiência nessa forma de representação (vide Gollum, em O Senhor dos Anéis, e o gorila Kong, em King Kong). Aqui, Serkis passeia tranquilamente entre inúmeras emoções de seu personagem e faz com que nos apaixonemos pelo animal em dados momentos ou torçamos por ele em outros. E tudo fica mais evidenciado na fantástica cena onde ouvimos uma surpreendente negativa vir à tona.
A direção de arte somada à fotografia de Andrew Lesnie confere realidade às locações. Desde os laboratórios, sempre crus e tomados por aparatos tecnológicos, até os imundos cárceres dos macacos no centro de controle de animais, há sempre um cuidado para que entremos na natureza de cada ambiente. É interessante notar também como pequenos detalhes da produção dizem muito sobre os personagens. A título de exemplo, cito o momento no qual Will retorna para casa e encontra seu pai tocando piano. Percebam como, enquanto afligido pela doença e demonstrando uma diminuição de suas faculdades motoras, Charles está cercado por diplomas que retratam seus momentos de glória e sobriedade, em mais um contraponto interessante. Em outro instante, um personagem assiste despreocupadamente ao noticiário e os espectadores mais atentos poderão perceber que a matéria veiculada diz respeito ao envio de astronautas à Marte – uma pista de que a história se passa em um momento histórico a frente do nosso.